Casamento Real, Casamento Minimalista

Um casamento tão esperado como o “Casamento Real”  do Príncipe Harry   e da atriz Meghan Markle, surpreende não só pela notoriedade, mas pelo sentimento e o minimalismo presente nas escolhas.

 

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“O que Deus uniu, ninguém separe”  o Arcebispo Justin Welby dando a benção final Fonte: Fonte: print da transmissão oficial via youtube

 

Caso você ainda não saiba, eu desembarquei na Inglaterra na semana anterior à Pascoa (de 2018). Durante este mês, venho observando a preparação geral para mais um esperado casamento real.

A mim, me surpreende muito que o casamento seja televisionado para países como o Brasil ( lembro de ter assistido o casamento do Príncipe Willian e Kate Middleton, com opções de comentários de moda, histórico-políticos e religiosos), mas hoje em dia, um evento como esse serve para consolidar a imagem da Inglaterra como potência mundial, e em última instância, esse é o exato motivo pelo qual vim parar aqui – minha bolsa de pósdoutorado tem por objetivo aumentar a reputação do Reino Unido como líder em inovação e pesquisa, e o Brasil foi considerado um parceiro estratégico. Então cá estou eu, assistindo ao casamento real ao vivo. Não… não em pub, e nem em um dos vários picnics organizados para isso, mas a partir do canal oficial da família real no youtube.

O que eu vi, e o que todo mundo viu (uma audiência estimada de 1.9 bilhões!), não tem nada de diferente de um casamento anglicano comum. A liturgia é exatamente igual seja para a família real ou para qualquer plebeu que se case na Igreja Anglicana. Seja no Reino Unido, na África, Estados Unidos ou Brasil, seguimos o Livro de Oração Comum, a única diferença é que a cerimônia será na língua local.

Mas esse casamento teve muitas coisas legais, que do ponto de vista minimalista, vale a pena comentar.

Flores: segundo a orientação, o templo nunca pode estar mais ornamento para um casamento do que para a festa da Páscoa. Então, sim, a igreja é linda, sim, tinham flores. Mas a igreja é linda porque foi construída no  final do século 14, em estilo  Alto Gótico, por encomenda do rei Edward III. Sobre as flores, em maior quantidade na área externa, foram escolhidas flores da estação: galhos de faia, bétula e choupo, rosas brancas de jardim, dedaleiras e peônias.  Boa parte delas não são flores de corte, mas plantas de jardim, que renascem a cada ano, sem precisarem ser replantadas. Elas foram especialmente escolhidas por serem pollinator-friendly plants, ou seja, plantas que favorecem a polinização por insetos, o que é muito legal, nesta épocas de extinção das abelhas que estamos vivendo!

O buquê, tão delicado, foi feito com flores colhidas pelo próprio noivo nos terrenos do castelo, algumas delas, escolhidas por serem as favoritas da mãe, a falecida  Lady Diana.

O noivo, capitão geral  do Royal Horse Guards and 1st Dragoons, vestiu o uniforme de gala do seu regimento, chamado popularmente de The Blues and Royals, por ser a junção de dois regimentos mais antigos o  Royal Horse Guards (chamados Oxford Blues – pela cor marinho do uniforme) e o Royal Dragoons, ambos de cavalaria montada. Prince Harry é famoso pela sua dedicação às forças armadas – ainda que todos eles sirvam – especialmente no serviço mais próximo aos soldados  lesionados em combate. Mesmo o uniforme de gala desse regimento é bem minimalista, se comparado aos outros batalhões, mas vem da origem de ser um batalhão de reconhecimento, onde discrição pode ser a chave para se manter vivo. Fato é que, todos os outros soldados desse mesmo batalhão estavam vestindo a mesma coisa – só não a barba… militares em serviço não usam barba, isso foi um toque pessoal do moçoilo,  que precisou de permissão para aprontar essa.

A noiva, famosa estrela americana da série Suits,  está se imbuindo do espírito de serviço do seu amado, e espressou o desejo de ter os 53 países da Commonweath (Comunidade das Nações britânicas) representados nesta jornada, e por isso a cauda do véu tinha em seu bordado 53 diferentes florais, característicos de cada nação. A tiara usada por ela, foi um empréstimo da Rainha Elisabeth II (como manda a tradição), foi feita em 1932 para a Rainha Mary, e abriga no centro um broche, presenteado à ela em 1893, por ocasião do seu casamento. Aí eu fico pensando: quer coisa mais minimalista que mandar fazer uma tiara para poder ter um melhor uso de um  broche de presente? Além, é claro, do vestido  ser bem minimalista, sem rendas ou bordados, mas sim, valorizando o tecido e a arte dos costureiros que trabalharam para fazer a peça modelar de forma perfeita à jovem noiva.

Os convidados: ainda que este casamento junte a realeza britanica com a hollywoodiana, o codigo de vestimenta dos casamentos britânicos é muito discreto em comparação a, digamos, um casamento brasileiro. Duquesa Kate, como de costume, repetindo roupa: usando o mesmo casaco em cerimônia pública pela quarta vez! Mesmo usando chapéus,  a maioria optou por versões discretas, afinal, não era o Derby. Uma cadeira vazia foi deixada em memória da mãe do noivo, coisas pequenas, mas que demostram o cuidado e carinho com que tudo foi planejado.

Presentes: o casal optou por receber como presentes doações para caridade. Sete ONGs foram escolhidas: CHIVA (Children’s HIV Association – Associação de crianças com HIV), Crisis (ONG nacional para moradores de rua), Myna Mahila Foundation (empoderamento feminino nas favelas de Mumbai), Scotty’s Little Soldiers (provê suporte para crianças que perderam os pais a serviço das forças armadas), StreetGames (esporte para empoderamento e educação infantojuvenil), Surfers Against Sewage (surfistas pela limpeza da costa marítima), The Wilderness Foundation UK (algo similar aos nossos escoteiros, usa o contato com a natureza para educação e empoderamento dos jovens). Essa atitude de pedir doações em vez de presentes, tem sido cada vez mais comum entre os ricos, famosos e óbvio, entre queles que acreditam que já tem o bastante e podem dividir e multiplicar a felicidade.

 

Casamento real

Saída sem arroz, mas com pompa e circunstância. Fonte: print da transmissão oficial via youtube

 

 

Em resumo: eu gostei muito, pelo cuidado com os detalhes. Mas o mais legal, é ter a consciência de que se pode influenciar os outros por meio desses tipos de ações, e chamar a atenção para causas (sejam sociais ou ambientais) que são importantes para nós, causando um impacto positivo, mesmo em meio a uma comemoração. Dizem que toda noiva, quer se sentir como uma princesa nesse dia tão especial. Agora, um casa mento digno de principes e princesas pode ser assim, minimalista.

 

 

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